segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As Bem -aventuranças





A promessa de alegria aos pobres é plenamente compreensível, mas o que entender do qualificativo adicionado ao substantivo pobre? “Bem-aventurados os pobres de espírito...”. Quem são os pobres de espírito?

Jesus estava rodeado de pobres de várias cidades circunvizinhas. Se a mensagem fosse somente: ‘bem-aventurados os pobres’, ela seria aceita e ovacionada pela multidão! Jesus teria conquistado os seus ouvintes e mais seguidores. Mas, como um povo que professava 'a melhor' religião, com princípios éticos e morais intocáveis e que se consideravam filhos de Abraão poderia aceitar ou reconhecer ser um ‘pobre de espírito’?

Como alguém observador da lei reconheceria a condição de pobreza espiritual?

No Antigo Testamento não consta o conceito ‘pobre de espírito’. Mas, Aquele que representava uma esperança de mudança na condição do povo, apresenta um novo conceito e uma necessidade de reconhecer uma condição que caracteriza os pecadores ou os incircuncisos. Como um filho de Abraão poderia reconhecer que era pobre de espírito?

Jesus completou a frase: “...porque deles é o reino dos céus”. Muitos se perguntaram: De quem é o reino dos céus? Dos pobres de espírito?

Além do mais, o povo estava a procura de curas, de pães, de peixes, de um reino terreno, mas Jesus estava falando de um outro reino: do reino dos céus!

Onde fica este reino? O que é o reino dos céus?

Para responder essas perguntas devemos observar a mensagem que foi anunciada desde o nascimento de Cristo: “E, naqueles dias, apareceu João batista pregando no deserto da Judéia, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” Mt 3: 1- 2; “Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” Mt 4: 17.

Verifica-se que o reino dos céus diz da pessoa de Cristo, como profetizou Isaias e reafirmou João Batista: “Porque este é o anunciado pelo profeta Isaias, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” Mt 3. 3.

Quando Jesus disse: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”, Ele não estava denunciando a moral do povo. Ele não estava apregoando um reino humano Jo 18. 36. Também não estava em busca de uma melhoria na condição socioeconômica do povo Jo 12. 8. Antes Jesus estava se apresentando ao povo por parábolas.

Com a sua mensagem, Jesus expôs ao povo que Ele é o acesso ao reino dos céus, e que todos aqueles que reconhecessem que eram pobres de espírito, estes seriam bem-aventurados. Aqueles que reconhecessem a precária condição espiritual que se encontravam, a estes pertenciam o reino dos céus, que é Cristo. Eles precisavam reconhecer que eram necessitados espiritualmente.

Enquanto queriam pão, Jesus estava apresentado o pão vivo que desceu dos céus. Enquanto buscavam um reino, Jesus estava lhes abrindo a porta do reino dos céus. A relutância em aceitar a condição de necessitados espiritualmente persistiu até mesmo entre os discípulos que criam nele: "Responderam eles (os judeus que criam nele): somos descendentes de Abraão, e jamais fomos escravos de ninguém" João 8: 31- 33.

Eles acreditavam estar abastados espiritualmente por serem descendentes de Abraão. Ao se auto proclamarem como filhos de Abraão, os judeus estavam cônscios de que eram filhos de Deus Jo 8: 41. Ser filho de Abraão para eles era o mesmo que ter a filiação divina. Por isso João Batista disse que das pedras Deus poderia fazer filhos para si. Em razão desta crença os judeus não admitiam que eram escravos de ninguém, uma vez que se admitissem ser escravos, era o mesmo que admitir que alguém havia conquistado o próprio Deus João 8: 33.


Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

O sermão prossegue: “Bem-aventurados OS QUE CHORAM...”. A bem-aventurança depende da emoção humana? O choro como conseqüência direta de uma emoção humana concede o favor de ser consolado?

Não! A idéia apresentada neste versículo complementa a anterior.

O choro denota a condição de impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a condição de miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.

A única ação de um miserável é o choro, e estes serão consolados!

Para que o abatido seja consolado, é preciso que habite com alguém que lhe arranque da miséria: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos” Is 57: 15; Sl 51: 17 .

Compare:

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5: 3.

“...como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos” Is 57: 15.

O salmista quando pedia perdão ao Senhor disse: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto" Sl 51: 10.

Quem haveria de consolar os que choram? Os que choram serão consolados por Aquele que tem o reino dos céus. É Ele que enxugará todas as lágrimas!

A resposta está em Isaias: “O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” Is 61: 1- 2.


Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;


A mensagem de Jesus possivelmente formou um impasse na mente dos ouvintes: Moisés, o homem mais manso da terra não conseguiu herdar a terra, como herdar a terra se os ouvintes não se consideravam maiores que Moisés “E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” Nm 12: 3.

Se Moisés, considerado um dos homens mais manso da terra, não conseguiu herdar a terra, qual a intenção de Jesus ao declarar que os mansos são felizes?

Mas a pergunta persiste: Quem são os mansos? Qual é a terra a se herdar?

“E os mansos terão gozo sobre gozo no SENHOR; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel” Is 29: 19.
“Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao SENHOR os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente” Sl 22: 26.
“Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundancia de paz” Sl 37: 11.

À exemplo do Antigo Testamento as bem-aventuranças decorre do Senhor de Israel, mas, como alcançar tamanha alegria e ainda herdar a terra? E qual terra?

Jesus é a resposta: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” Mt 11: 29.

“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;”

“....aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”

Observe a relação entre os dois versículos: aqueles que se deixarem instruir por Jesus, o Mestre por excelência, estes serão felizes por alcançar o prometido, descanso para as almas. Estes serão bem-aventurados por alcançar o prometido: a promessa de herdar a terra equivale ao descanso para a alma para aqueles que se deixarem instruir.

Quando Jesus falou ‘bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra’, não foi com o intuito de concitar os ouvintes a que tivessem uma personalidade semelhante ou superior a de Moisés.

A mansidão que Jesus faz referência não é comportamental, antes é a mansidão vinculada ao coração, ou a nova natureza do homem. Após o homem aprender de Jesus haverá uma transformação na natureza do homem, e estes receberão a plenitude de Cristo, e serão semelhantes a Ele: mansos e humildes de coração Cl 2: 10.

Quando Jesus afirmou que os mansos herdarão a terra, Ele não fez referência a elementos deste mundo, mas ao descanso preparado por Deus. A 'terra' representa um lugar de descanso que Deus preparou para os que aprenderem daquele que é por excelência manso de coração "Ora, nós, os que temos crido, entramos no descanso..." Hb 4: 3- 10.

A terra prometida no Antigo Testamento estava atrelada a idéia de descanso, e no Novo Testamento a referência a terra diz de coisas melhores: do descanso de Deus. Aqueles que aprenderem com Cristo, estes terão descanso para as suas almas.

Aquele que encontra descanso para a sua alma em Cristo não receberá como herança um torrão de terra, antes será herdeiro de novos céus e nova terra “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” II Pe 3: 13 .

O apóstolo Pedro ao referir-se aos mansos de coração, não fala do homem natural, mas daquele homem que não conseguimos visualizar, aquele ‘encoberto no coração’, do homem regenerado, que possui um incorruptível traje de um espírito manso e quieto “Mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” I Pe 3: 4.

O que é precioso diante de Deus? O que possui valor para com Deus? Segundo o apóstolo Paulo o que tem valor, o que tem virtude diante de Deus, é o ser uma nova Criatura: “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor” Gl 5. 6; “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” Gl 6: 15.

Como a fé 'vem pelo ouvir', e o 'ouvir pela palavra de Deus', quando Jesus diz que devemos aprender dele, é porque o seu ensino produz fé que faz os seus ouvintes alcançar uma nova vida com direito a ser herdeiro com Cristo. Como Cristo descansou de suas obras, como herdeiros de Deus, os de novo gerado alcançam a bem-aventurança.

Através da regeneração o homem adquire a natureza de Cristo, ou seja, é gerado segundo Deus um novo homem em verdadeira justiça e santidade, características pertinentes a pessoa de Cristo. Somente através do novo nascimento o homem torna-se humilde e manso de coração.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;


Percebe-se que Jesus não estava se referindo à justiça que é administrada nos tribunais dos homens! A abordagem de Jesus em momento algum teve objetivos político. Jesus não estava preocupado com os problemas atrelados as injustiças sociais. Jesus não estava promovendo mais uma obra de caridade.

Em momento algum Jesus expôs os princípios anunciados pela teologia da libertação em que a prática de justiça esteja atrelada a transformações de ordem econômicas, social e políticas. Em momento algum Jesus demonstra que a bem-aventurança dependa de transformações sociais ou que se fundamenta nas relações sociais.

Jesus não estava promovendo diretamente a prática da fraternidade, o equilíbrio nas relações no exercício do poder ou incentivando a partilha de bens no intuito de equilibrar a distribuição de riquezas.

Não! O sermão do monte trata de questões eminentemente espirituais.

Se Jesus estivesse promovendo a solidariedade humana como requisito para se alcançar a verdadeira alegria, ele não teria protocolado um veemente protesto aos seus ouvintes: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” Mt 5: 20.

Você já observou o conceito dos fariseus e dos escribas frente a multidão? Para o povo os fariseus e os escribas eram o que a sociedade tinha de melhor. Porém, a análise de Cristo é diferente: “Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” Mt 23: 28.

Os religiosos pareciam justos, mas a natureza deles era incompatível com a divina: estavam plenos de iniqüidade.

Como seria possível as obras dos ouvintes de Jesus alcançar uma posição maior em relação aos fariseus e saduceus? Como entender o ter fome e sede de justiça? Onde os ouvintes de Jesus encontrariam fartura de justiça?

Se conseguirmos responder a estas perguntas, estaremos bem próximo de entender todos os conceitos apresentados por Jesus no sermão do monte.

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